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Flácida

Fernanda Pequeno, 2018

 

Flácida é a pele ou o músculo que se encontram frouxos ou sem tonicidade. O título da exposição individual de Isabela Sá Roriz congrega matérias em estado “mole”, como se localizadas entre o sólido e o líquido. Os trabalhos inéditos aqui apresentados utilizam materiais industriais, como vidro e borracha, e exploram as relações entre corpo e espaço. 

A artista faz uso de polímeros, macromoléculas formadas pela ligação de monômeros (pequenas moléculas) em estado líquido, deixando que o acaso aja e lhes dê forma. Na exposição, exibe esculturas geométricas de borracha de silicone, moldadas em formas de argila, madeira e outros materiais.

A mostra apresenta peças de silicone de diferentes tipos e texturas, vidro e linha cujas sustentações se dão a partir delas mesmas, de modo que as esculturas se resolvam em si: elas não estão coladas ou pregadas, mas encaixadas ou aglutinadas a partir de seus distintos processos de catalisação.

Os contrastes de materiais industriais que remetem a corpos humanos e animais são enfatizados nas composições da artista que combina a flacidez do silicone com a densidade, a cor e o formato pontiagudo dos vidros, desenhados e produzidos especialmente para essas esculturas. O preto, o branco, as transparências e as opacidades dessas superfícies sugerem corpos em queda ou em processo de liquefação.

As quatro peças que compõem a exposição acionam escalas diversas pela textura, peso, volume, cor e densidade, ressaltadas por suas montagens distintas no chão, na parede ou penduradas no teto, favorecendo ritmos visuais. A coluna mole preta apresenta peso e densidade enfatizados pela ação da gravidade, como se estivesse numa queda iminente; a peça branca do convite sugere um diálogo devorador de dois corpos, como a escultura de Maria Martins; as duas esculturas suspensas, por sua vez, aludem leveza, mas também languidez, sugestionando formas liquefeitas aonde as transparências insinuam corpos artificiais.

Isabela Sá Roriz propõe espécies de corpos geométricos, lançando mão de uma geometria mole que ela própria denomina como carnívora. Retirando o sangue e a dramaticidade, a artista realiza jogos de dessemelhança, num vocabulário simplificado que utiliza o ínfimo de materiais e estabelece relações entre fragilidades ameaçadoras. 

Tentativa e erro e testes são os métodos empregados na combinação de formas viscosas que não se espalham nem se apresentam compactas, como se fossem sólidos geométricos vazios por dentro, ou corpos dos quais sobrou pouca ou nenhuma visceralidade. A iluminação enfatiza as superfícies, peles, seus volumes e texturas, assim como a formação de sombras, opacidades e duplicações desses quase-corpos cujas escalas e cores artificiais (branco, preto, transparências) se intensificam nas ligações entre as peças.

Isabela Sá Roriz estabelece, assim, relações entre arquitetura e corpo nesses volumes escultóricos flácidos. As formas-síntese da presente exposição são fruto de experimentações com o acaso e a gravidade cujo resultado sugere certa morbidez de peles e poros formados por contrastes interessantes porque heterogêneos.

NOSSO CORPO
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