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"Trabalho: atividade que produz e informa objetos”

Vilém Flusser. Glossário para uma futura filosofia da fotografia. In: Filosofia da Caixa Preta. 1985

Isabella Rjeille, 2014

 

 

Um diagrama em que dois pontos - A e B - são conectados por linhas - algumas sinuosas, outras que se estendem como galhos, criando ramificações a outros pontos, até linhas retas e diretas - talvez seja a melhor representação de processo. Em cada uma das linhas de possível conexão entre A e B, encontramos uma multiplicidade de escolhas, tomadas de acordo com a urgência em se chegar a B, o que implica, naturalmente, o esgotamento da vontade de permanecer em A. Neste deslocamento entre um ponto e outro, há variáveis capazes de interromper, atrasar ou facilitar o percurso de A a B, que dependem da habilidade, única e exclusiva, de quem ou do que se desloca entre estes dois pontos. O processo é resultado de uma equação entre os elementos e fatores acima descritos, na qual todos os elementos que envolvem o que há entre A e B relacionam-se e afetam-se.

Na tentativa de dominar a equação entre as variáveis que existem no processo, o homem desenvolveu uma série de aparelhos, instrumentos e máquinas, a fim de direcioná-lo ao melhor caminho a B. Uma vez que são deixadas a outro objeto as respostas de problemas práticos em relação aos meios utilizados para atingir determinado fim, o homem poderia, então, vangloriar-se de tempo livre para questões de ordem subjetiva e intelectual. Porém, o que aconteceria no caso de um “erro de cálculo” entre as variáveis? A máquina construída para facilitar o trabalho então falharia enquanto instrumento, correndo o risco de cair na disfuncionalidade e rebaixar-se ao mundo dos objetos sem-função.

Em “Cultivando pedaços de arte", o funcionário emprega um cansativo esforço para produzir um objeto aparentemente inútil, fazendo de B um destino duvidável. O caminho escolhido então desconsidera a finalidade produtiva e alonga o processo, multiplicando-o em diversas funções, preenchendo o tempo, para adiar o fim. Aqui, homem e objeto, funcionário e produto, criam uma relação conflituosa: o objeto em sua ingênua simplicidade desfaz o esforço do funcionário, que, por sua vez, dedica-se a continuar replicando esta situação em um sistema de anulação que se retroalimenta.

Texto para catálogo Abre-Alas 2014

ADAPTÁVEL
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